Abelhas e a polinização

A polinização é a transferência do pólen (gameta masculino) da estrutura reprodutiva masculina de uma flor (antera) para a estrutura reprodutiva feminina (estigma) da mesma flor ou de outras flores da mesma espécie. Dessa forma, o gameta masculino alcança o gameta feminino (óvulo) e o fecunda. Este processo permite a formação de frutos e sementes que, futuramente, produzirão uma nova planta.

Em alguns casos, como o milho, trigo e arroz, o pólen é transportado pelo vento. Outros agentes polinizadores são a água (em certas plantas aquáticas) e a gravidade.

Porém, em cerca de 80% de todas as plantas com flores, alguns animais são os responsáveis pela polinização. Na grande maioria dos casos, entre os animais polinizadores, nenhum é mais eficiente do que a abelha.

Graças ao seu trabalho de coleta de pólen e néctar, voando de flor em flor, as abelhas polinizam as flores e promovem a sua reprodução cruzada. Além de permitir a reprodução das plantas, esse trabalho também resulta na produção de frutos de melhor qualidade e maior número de sementes. Todo esse processo resulta na base de toda uma cadeia alimentar.

Abelhas sem ferrão e a biodiversidade

A criação de abelhas sem ferrão remonta aos antigos povos indígenas que desenvolveram as práticas básicas de manejo. Essa tradição advém do grande número de espécies que habitam o território brasileiro, estimado em mais de 300 espécies.

Tamanha variedade, que se traduz em diferentes tamanhos corporais, colorações, preferências florais e comportamentos diversos, faz com que as abelhas sem ferrão (também conhecidas como meliponíneos) sejam excepcionais polinizadores de áreas com grande biodiversidade e podem ser usados em programas de restauração ambiental para o resgate da flora original. As abelhas sem ferrão são importantes ecológica e economicamente, pois são essenciais não só em ecossistemas naturais, mas também na agricultura, seja em campo aberto ou em estufas. Elas são agentes importantes na polinização de inúmeras culturas agrícolas – café, tomate, urucum, abacate, manga, coco, morango, pepino, pimentão, carambola – contribuindo anualmente com bilhares de dólares na economia da região tropical.

Além disso, verifica-se um crescente interesse econômico sobre os diversos tipos de mel que as abelhas sem ferrão produzem. Esses méis são cada vez mais requisitados nos mercados de especiarias e nos meios gastronômicos.

Apicultura e as grandes culturas

A introdução das abelhas africanas (Apis mellifera scutellata) em 1956 e o consequente cruzamento com as subespécies vindas da Europa que aqui foram introduzidas, formando o poli-híbrido conhecido como Abelha Melífera Africanizada (AMA), mudaram completamente o panorama da apicultura brasileira.

Além de multiplicar a produção e proporcionar um ganho de qualidade ao mel e a outros produtos derivados, essas abelhas também passaram a desenvolver um papel de polinização essencial em diversas culturas agrícolas como maçãs, peras, frutas cítricas, melões e kiwis, entre outros frutos e vegetais.

Importância econômica

A polinização é um serviço ambiental que permite a manutenção da biodiversidade, além de ser essencial para a produção de diversos alimentos. Assim, a conservação dos polinizadores se faz necessária para o aumento sustentável da produtividade agrícola brasileira, já que os frutos e sementes estão na base da cadeia alimentar.

Apesar desse papel central no cenário agrícola, ainda faltam estudos para mensurar a importância econômica da polinização no Brasil. Só para se ter uma ideia, nos EUA, onde há uma demanda regularizada por serviços de polinização, estima-se em bilhões de dólares por ano o valor da polinização realizada apenas por abelhas nativas, sem considerar as introduzidas Apis mellifera.

Além da falta de estudos econômicos, o cenário brasileiro padece de um problema cultural, uma vez que poucos cursos universitários (como agronomia, zootecnia, engenharia florestal ou biologia) abordam o assunto com a profundidade necessária. Na maioria dos casos há uma ênfase muito maior sobre novas variedades, novos agroquímicos e nas técnicas de cultivo, ficando os processos de polinização em segundo plano.

Ainda que subvalorizada no país, a polinização tem sido usada em larga escala em duas culturas de grande expressão econômica: maçã, especialmente em Santa Catarina, e o melão, principalmente nos estados do Ceará e Rio Grande do Norte. Estas culturas utilizam o aluguel de colônias de Apis mellifera, gerando bons negócios para os apicultores.

Em outros países há o registro de diversos produtores que investem no manejo de paisagens, procurando tornar suas propriedades mais adequadas para atrair e desenvolver populações de polinizadores naturais ou espontâneos.

Vale destacar que, por desconhecimento dos produtores, algumas culturas de grande valor econômico, como soja e canola, também podem aumentar seus níveis de produtividade se forem adequadamente polinizadas. Segundo alguns estudos com culturas de soja, esse ganho pode chegar de 31,7 a 58,6% no número de vagens, 40,13% no peso da vagem, 29,4 a 82,3% no número de sementes, 95,5% na viabilidade das sementes e 9 a 81% no peso das sementes.